quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Atletas da equipe Triboo de MTB fazem a Estrada Real ,curtindo o mais puro Mountain Bike.



Tudo começou no dia 1º de Janeiro de 2011. Aliás, já era um sonho antigo.
Conheci o Eurico em um pedal na cidade de Carrancas, em novembro de 2010.
Comentei com ele sobre essa idéia de fazer o Caminho Velho, da Estrada Real. Na mesma hora ele disse que tava dentro da idéia.
A partir daí comecei a planejar essa expedição e lembrei-me do Ivan, um grande amigo meu que sempre nos encontrávamos nas corridas e às vezes o visitava em sua loja na cidade de Piranguinho, a G Bike.Fiz um convite para ele que topou na hora ,isso faltando apenas duas semanas para o início da jornada.

 
Marco de partida

Tudo pronto, planejado e esquematizado, borá pra Ouro Preto então!
Partimos em direção a Ouro Preto-MG, onde começava nossa aventura. Eu, Ivan um amigo de Piranguinho-MG e Eurico, de Juiz de Fora-MG.
A idéia era percorrer o Caminho Velho da Estrada Real, que liga as cidades de Ouro Preto-MG a Paraty-RJ, caminho esse muito freqüentado por aventureiros e mais badalado da Estrada Real.


Inicio do Pedal em Ouro Preto


Os primeiros km da Estrada Real

Fomos com nosso apoiador também de Piranguinho, o Humbertinho, nosso motorista que é um ex-ciclista e que nos prometeu que na próxima “roubada” estará conosco como ciclista, e não como motorista.
Levamos o básico de bagagem. Apenas um par de roupas pra pedalar, um par de roupas pra sair e chinelos, além de algumas peças de reposição pra bike, tipo pastilhas de freio, cabos de aço, câmaras de ar, bomba e remendos.
Saímos de São Lourenço com uma garoa que nos acompanhou até lá em Ouro Preto.
Chegamos, fomos almoçar e procurar uma pousada, ainda com chuva.
Depois de aconchegados já, a chuva parou. E então resolvemos fazer um tour pela cidade, conhecendo os pontos turísticos de Ouro Preto.
Belíssimas igrejas antigas, cheias de ouro, arquiteturas que nos deixavam com a boca aberta.

 

   Igreja em Ouro Preto


Anoite em Ouro Preto


Primeiro marco

  Primeiras horas de pedal


Pegas de uma possivel onça
 
Depois de muitas fotos, passeios e um pouco de história, resolvemos preparar as magrelas pro dia seguinte, pois sabíamos que nossa jornada não seria fácil.
O plano era fazer o Caminho Velho fielmente seguindo os marcos que tem ao longo de todo trecho e seguindo uma planilha de navegação adquirida junto ao site da Estrada Real.
Seria cerca de 700km por estradas de terra pouco pavimentadas, trilhas, pastos, serras, subidas, muitas subidas.
Planejamos também fazer cerca de 100km por dia. Pedalaríamos até as 16horas de cada dia, com os pernoites em determinadas cidades já programadas.
Planejamos, pois ao longo vocês verão que não conseguimos cumprir certo, devido as chuvas que dificultaram nosso esquema por demais.
Só que não sabíamos que seria tão difícil cumprir as metas diárias, devido as chuvas...
Então vamos lá! Saímos ainda alegres, limpinhos de Ouro Preto, as 7 horas da manhã. Subindo já, com direção a Pequeri, distrito de Congonhas.
Começamos por uma trilha muito difícil, com 15km de extensão. Havia trechos onde não dava pra passar sozinho. Um tinha que ajudar ao outro. Muito empurra-bike e carrega-bike. Mata fechada, muito barro e sobe e desce o tempo todo.
E ainda o pior, que nos causou mais medo. Pegadas de onça. E das grandes. Pedalamos por umas 5 horas no meio da mata fechada e com as pegadas a nossa frente, o tempo todo. Parecia que a onça estava correndo de nós. Era um lugar onde não havia marcas de civilização nenhuma. Apenas uma pequena e estreita trilha em meio a árvores e bosques.

 
   No meio da trilha um Chafariz 1792

Ponte do Trem

 No meio do nada, havia o famoso chafariz de 1792, ainda em bom estado de conservação, onde servia de refresco pros escravos da época.
Bem no horizonte, vimos uma belíssima ponte de ferro em meio as serras e matas, bem distante de nós.
Mal sabíamos que no final da tarde estaríamos passando por debaixo dela...
Depois de toda manhã dentro mata, chegamos a uma estradinha de terra, pouquíssima usada, com muito barro, mas ainda sem chuva.
Passamos por diversos povoados e distritos, aos quais passávamos acelerados com medo da chuva e com intuito de cumprirmos nossas metas diárias.
Enfim ela veio e nos pegou. A chuva. E veio forte e cruel...
A partir daí, não sabíamos o que era uma roupa seca e pés quentes, secos.
Muito barro, lama e sujeira nos acompanhavam a cada momento, até praticamente Paraty.
Tombos e mais tombos já faziam parte da nossa rotina, pois as estradas eram armadilhas.
Lisas, literalmente sabão mesmo! Mas nada que nos impedia de continuar nossa jornada!
Continuamos em direção ao nosso primeiro pernoite, no distrito de Pequeri, pertencente a cidade de Congonhas.
Achamos melhor dormir em Congonhas, devido a estrutura que a cidade nos oferecia.
Passamos por lugares maravilhosos, inclusive aquela ponte que vimos cedo, do alto da mata, ainda em Ouro Preto. Passamos também ao lado de várias mineradoras, onde o solo é um solo preto, muito cascalhado.
Pedalamos por uns 3km pela rodovia BR-040. Um trânsito muito grande de carretas e caminhões que passavam nos lambendo a cada momento, tirando fino.
Rodamos no primeiro dia 87km.
Chegamos na cidade e fomos procurar um posto de gasolina, pra jogar uma água na bike e na gente mesmo, pois já estávamos encardidos e as bikes quase não rodavam mais.
Não sabíamos que esse seria nosso ritual diário.
Chegar, lavar a bike, arrumar hotel, tomar banho, lavar as roupas muitas vezes no chuveiro, jantar e no outro dia cedo, colocar as roupas ainda molhadas e sair pra pedalar.
Isso nos acompanhou por todos os dias da trip.
Fomos conhecer um pouco de Congonhas. Conhecemos a belíssima Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, construída pelo Aleijadinho. Obra prima que nos deixou de queixo caído, devido à perfeição do trabalho.
Fomos pro hotel descansar e preparar pro outro dia.
O hotel era do lado da ferrovia. O trem passava a cada meia hora. Tremia tudo. Não dormimos direito a noite toda, devido ao barulho e a trepidação do trem.
Choveu muito durante toda a noite.
Acordamos no outro dia cedo, as 6h da manhã. Tomamos café, preparamos a bike, colocamos as roupas molhadas, arrumamos as bagagens e roda na estrada, com direção ao nosso próximo destino do dia, a cidade de Prados, que ficava a 120km dali.
Saímos pontualmente as 7h, com chuva. Outra rotina que começava aqui. Sair com chuva todo dia...

                                                                                 Congonhas

Jiuliano Souza

Ivan e Jiu em Bichinhos



                Pousada sr. Pedro em Prados         

Começamos por um pequeno trecho de asfalto pela BR-040, cerca de uns 7km.
Chegamos a Pequeri e vimos que tivemos uma ótima decisão de dormir em Congonhas, pois ali não havia nem bar direito. Um povoado muito pequeno.
Continuamos nossa jornada por uma estradinha de terra, ou melhor, de barro, muito barro.
Havia lugar que não dava pra pedalar. Tínhamos que praticamente rastejar no barro com a bike nas costas. Muito pesado mesmo.
Depois um single track, que é uma trilha muito fechada e sinuosa, em meio a mais uma mata atlântica com muita água. Daí em diante, descobrimos e lançamos uma nova modalidade esportiva, ao qual iremos patenteá-la: o “Aqua-Bike”. Pratiquem com moderação. É muito divertido, mas muito desgastante... rsrs
Passamos pelas cidades de São Brás do Suaçui, Entre Rios de Minas, onde almoçamos.
Logo após Entre Rios de Minas, o trecho ficou um pouco complicado. Muita chuva, muito barro, e um trecho muito confuso, onde haviam marcos do lado errado da estrada e a navegação um pouco confusa.
Chegou em um determinado trecho, que estávamos em direção a cidade de Casa Grande, onde um nativo nos indicou que fôssemos por outro caminho, pois naquele não havia possibilidade de passar, devido a barreiras e pontes caídas.
Achamos melhor ouvir e acatar o pedido do homem.
Prosseguimos então em direção a próxima cidade, Lagoa Dourada.
Com chuva ainda, andamos por um asfalto por cerca de 12km, onde pudemos tirar um pouco do atraso, devido ao barro na estrada.
Vimos Lagoa Dourada a 300m de nossos olhos. Mas como estávamos fazendo a rota da Estrada Real, procurávamos fazer fielmente conforme o combinado.
Tivemos que dar uma volta em um pasto, passar por um córrego muito fundo e passamos em meio a uma braquiária muito alta, subida muito íngreme, onde só dava pra subir com a bike nas costas.
Chegamos por cima da cidade, despencando por um downhill urbano.
Pra quem não sabe, Lagoa Dourada é a cidade do rocambole, onde há os melhores e mais saborosos do Brasil.
Pra nossa infelicidade, não tínhamos tempo pra comprovar isso, pois estávamos um pouco atrasados pra cumprir nossa meta diária, e a chuva apertava cada vez mais!
A bike tava muito suja, com muito barro e fazendo muito barulho. Não conseguimos um posto, por onde passamos. Mas pra nossa alegria, havia um senhor lavando o carro dele, pela rua que passamos.
Nossos olhos brilharam quando vimos a maquininha de água. Era tudo o que precisávamos! Não desgrudávamos os olhos em silêncio. Parecíamos cachorro na porta de açougue, vendo o franguinho assado em dia de domingo no forno.
De repente, o dono do carro vê a gente e nos oferece: Quer?
Opa! É claro, né! rsBike limpa até o momento, bora pedalar...
Prosseguimos em direção a cidade de Prados, onde dormiríamos.
Um trecho bom de estrada de terra e um pouco de trilha, mas com chuva ainda e muito barro.
Subimos muito e passamos a andar pelos platôs das montanhas, onde pudemos apreciar mais belas paisagens, nos perdendo em meio a plantações de milho.
Chegamos em Prados. Já com um poço de dores, assaduras e bastante cansados, devido aos vários tipos de esforços feitos durante os trechos de muito barro.
Fomos a um posto, lavamos as bikes e fomos pra Pousada do Seu Pedro, um ser muito educado e gente boa, que nos tratou super bem.
Depois de uma ótima noite de sono bem dormida, acordamos, tomamos um super café, arrumamos as magrelas, vestimos as roupas molhadas e encardidas e partimos bem cedo, com destino a Carrancas, que ficava a 105km de distância dali.
Saímos com uma garoa fina, que foi aumentando vagarosamente.
Nossas bikes já não eram as mesmas. A bike do Eurico precisava de um upgrade urgente, pois as marchas já não estavam em bom estado, e a bike do Ivan também precisava de pastilhas novas e alguns ajustes.
Tivemos a idéia de passar em uma bike shop que eu conhecia em São João Del Rey, de um amigo meu. A Ophicina Bike Shop, do grande Mauricinho.
Só que antes tínhamos que passar pelo distrito de Bichinhos, onde se encontra o museu do automóvel da Estrada Real e vários artesãos. Logo após, ainda sem chuva, a belíssima cidade de Tiradentes, com suas igrejas de 1710 e 1750, que nos encantou muito por sua beleza. E passando por Tiradentes, não tem como não passar pelo famoso Seu Chico Doceiro, já no ramo a 54 anos, que faz um canudinho de doce de leite como ninguém. Muito bom. Vale a pena passar e degustar seus maravilhosos doces.
Barriga cheia, pé na areia, ou melhor, rodas no barro!
Passamos pelo centro histórico e saímos em direção a São João Del Rey, passando pelo marco zero da Estrada Real, ao lado de uma belíssima cachoeira.
Andamos sempre ao lado da bela serra de São José. Linda e imponente. Uma verdadeira parede de pedras.
Marco Zero da Estrada Real, entre Tiradentes e São João Del Rey


 
                                                                 Praça em Tiradentes


Eurico na serra de Carrancas


Chegamos em São João Del Rey a chuva veio junto.
Fomos direto a Ophicina Bike Shop, onde o pessoal foi super gente boa com a gente, nos dando todo suporte que precisávamos e com muita atenção e carinho. Aliás, um grande abraço a toda a galera lá, o Mauricinho, o Ninja, o Tchosfa, o Feijão, ao Drika e aos outros feras lá, que não me recordo o nome. Vocês são demais!
Gastamos umas 3 horas ali arrumando as bikes. Almoçamos e prosseguimos.
Saímos de São João Del Rey sem chuva, subindo ao topo da cidade. Um lugar maravilhoso, com muitas cachoeiras e trilhas muito exuberantes.
Mais um super downhill que nos levava a um lugar com muito, mas muito barro mesmo, onde atolamos de pé, com a bike nas costas.
Mais um trecho um pouco confuso, no qual quebramos a cabeça um pouco. Estávamos bom nisso já! hehe...
Tivemos que atravessar um rio sem ponte. Ficamos com um pouco de medo, mas fomos primeiro de pé, pra ver se dava pé.
Conseguimos passar e continuamos com chuva por um bosque alagado, muito sinistro.
Chegamos em um povoado com um nome que nos assustou um pouco. Rio das Mortes, que fica ao lado do Queima Sangue.
Chegando nesse lugar tenebroso, fui pedir água em uma casa. Foi muito engraçado. A dona me perguntou desse jeito: Ceis tão vindo de onde? Aí eu falei: De Ouro Preto. E ela respondeu: Meu Deeeus!
E depois ela perguntou: Ceis tão indo pra onde? Eu respondi: Pra Paraty. Então ela arregalou os olhos, engoliu uma saliva e suspirando disse: Meu Jesus amado! Ceis são doidos!
Rimos muito da cena. Onde passávamos, éramos celebridades. Sempre muito bem recebidos. Éramos o centro das atenções. Muito engraçado.
Continuamos com direção a Carrancas, que ainda tava bem longe, cerca de 80km ainda.
Começou a chuva novamente. Subimos, passamos pela linha do trem, e subimos mais. Pedalamos por montanhas imensas. Trilhas e descidas violentas.
Teve uma hora que descemos um pasto muito grande. Chegando lá embaixo, tínhamos que passar por um rio. Só que o bendito rio estava muito cheio, devido as chuvas. Correnteza forte. Não havia ponte. Aí então bateu um pequeno desespero. E agora? O que fazer? Voltar não dava, pois estávamos um pouco longe da havia civilização, e não seria fácil subir tudo aquilo que acabávamos de descer!
Daí então nós espalhamos pra arrumar uma alternativa. Foi aí então que o Eurico, no meio de um matagal, achou uma pinguela, alta, lisa e escorregadia.
Não pensamos duas vezes. Corremos, fizemos um teste e passamos. Deu trabalho, mas conseguimos!
Chegamos a ma fazendo. Pegamos água e tiramos o mais grosso do barro. Daí começou outra dificuldade. Mata-burros na horizontal, ao invés de ser na vertical. Toda hora tínhamos que descer da bike e empurrar, pois estavam lisos e com barro.
Um trecho chato pra rodar. Quando não era barro, era areia molhada, onde fazíamos muito esforço e não rendia muito.
Chegamos a São Sebastião da Vitória. Uma cidadezinha pequena.
Fomos direto ao único posto da cidade pra dar aquela lavadinha na bike, quando descobrimos que pra passar na represa que liga Caquende a Capela do Saco, havia somente uma balsa, que operava até as 17h, sendo que já era 17:30h.
Não havia pousadas em Caquende. Somente do outro lado da represa, em Capela do Saco.
O frentista do Posto, o Daniel, muito gente boa, conhecia um cara que tem uma canoa, que passa a galera lá, nos ajudou muito. Ligou pro tal do Del e combinou com ele, pra nos esperar e nos passar. O único meio de passar naquela região é através da represa.
Tudo esquematizado fomos comer. Comemos muito que na verdade, achamos melhor dormir ali em São Sebastião da Vitória mesmo, pois já estava ficando tarde e ainda faltavam cerca de 60km pra chegarmos em Carrancas.
Então fomos até a única pousada da cidade tranqüilo. Quando chegamos lá, adivinham? Não havia vagas. Nem na varanda, junto com o cachorro!
Aí desesperamos! E agora? Como vamos fazer? Caquende é um minúsculo povoado que não tem pousadas. E não havia opções entre São Sebastião da Vitória e Caquende, a não ser sair da rota por cerca de 40km e dormir em Itutinga.
Pensamos, apavorados. Repensamos e pensamos novamente. Achamos melhor arriscar e seguir viagem pra Caquende. Lá a gente arrumava um jeito, ainda desconhecido. Na pior das hipóteses, chegaríamos em Carrancas de madrugada.
Fomos. Anoitecemos na estrada de barro seco. Muito difícil pra andar. E com apenas um farol.
Depois de muito sofrimento, alguns tombos mais e uns probleminhas nas bikes, cerca de 3 horas de pedal em 30km, chegamos em Caquende e fomos procurar o Del, as 22h pra nos passar com seu barco a remo na represa, por cerca de 20 minutos sobre as águas escuras.
Passamos, com um pouco de medo, mas deu certo!
Agora vamos procurar uma pousada.
Fomos a primeira e nada. Ninguém lá.
O Del foi muito legal com a gente e nos levou a última opção. A Pousada Reis, da Dona Sônia.
Dona Sônia nos acolheu com muito carinho e alegria. Até janta ela preparou pra gente.
Tivemos mais uma ótima noite de sono, apesar do pouco tempo dormido. Mas deu pra descansar.


Cachu no caminho


  Capela do Saco, em Carrancas 
 
Acordamos no outro dia e seguimos em direção a Carrancas, com intuito de pernoitar em São Lourenço, em casa.
Saímos debaixo de uma fina garoa e um terreno bastante pesado, alternando com trechos com bastante barro e muita areia molhada, o que deixava ainda mais difícil nossas pedaladas.
Chegamos a um ponto onde havia uma placa que dizia que a partir dali, só dava pra prosseguir com carro 4x4. Ou seja, pegaríamos um trecho bastante difícil, do jeito que a gente gosta.
Começamos a subida da serra de Carrancas. Muitas pedras soltas, muita água no caminho e um lugar paradisíaco. Um trecho entre pedras brancas, um dos pontos mais lindos de toda a viagem. Parecia que estávamos pedalando sobre a neve. Muito lindo mesmo. Paramos e ficamos encantados com a beleza do lugar. Uma forte serração descia sobre aquele lugar, tampando a visão do horizonte. Um show da natureza. Valeu e muito o esforço de ter chegado até ali.
Daí então descemos até a cidade de Carrancas, onde fomos direto ao posto lavar as bikes e almoçar.
Enquanto almoçávamos, despencou uma chuva muito forte, que veio a nos baquear um pouco, pois já não agüentávamos tomar chuva. Era o dia todo com as roupas molhadas, os pés pareciam estar podres já, de tão molhados que ficava o dia todo.
A idéia era chegar a São Lourenço, que daria num total do dia 140km. Mas não deu...
Conseguimos chegar a Cruzília, pois a chuva judiou muito da gente e das bikes. O terreno muito pesado nos obrigou a dormir em Cruzília, na tia do Eurico, que nos recebeu com muita alegria também.Depois de muita conversa, de muito avaliar o estado das bikes e de nossos pés também, achamos melhor tirar um dia de folga, vamos dizer assim. Na manhã seguinte, acordamos cedo, tomamos café e colocamos nossas roupas molhadas e partimos em direção a Caxambu, onde um grande amigo nosso que tem uma loja especializada em bikes de competição, a Metal Bike, nos ofereceu uma super geral em nossas bikes. O Du foi muito legal como sempre. Deixou todo serviço de lado e deu um trato em nossas magrelas.
E nós, fomos passear, relaxar um pouco e eu dei um pulinho em casa, onde um outro amigo meu, o Gaffa, foi me buscar, pra eu tomar um banho em casa, comer a comidinha da mamãe (que não tem melhor), trocar de roupa e dormir em casa, pra recomeçar no outro dia novamente!
Acordei as 4:30h, tomei café e enfim, coloquei uma roupa nova e fui para Caxambu de carro, encontrar com a galera e recomeçar nossa jornada.
A partir de Caxambu, teríamos a companhia de mais dois amigos, o Arimatéia e o Léo, que já pedalavam conosco e resolveram acompanhar-nos até Paraty.


Tunel da Mantiqueira

 dois brothers de Caxambu, q foram até Paraty , na porta do túnel da Mantiqueira


Saímos de Caxambu com uma fina garoa. O terreno ainda com muito barro dificultou nossa trajetória novamente, até a cidade de São Lourenço, um trecho de 25km por estradas de barro novamente, saindo pelo Cafundó.
Passamos num posto de gasolina e lavamos a bike. É engraçado literalmente estar de passagem na minha cidade, pois não poderia desistir de continuar, por mais que o desânimo batia, a dor pedia pra ficar, mas a vontade de conquistar essa expedição por completo era maior. Daí então me lembrei de uma frase que um dos maiores ciclistas do mundo disse um dia: A dor é passageira, pode durar uma hora, um dia, uma semana, um mês e até um ano, mas desistir é para sempre! Então prossegui firme, com muita garra e disposição.
Passamos na Velo Sport, pra fazer um reajuste nas bikes, onde o mecânico Mauro foi muito atencioso conosco e fez um “Pit Stop”, pois estávamos com muita pressa e vontade de chegar em Guaratinguetá naquele dia ainda.
Fomos girando forte, agora sem chuva e com poucos trechos de barro, onde pudemos ter um desempenho melhor, com direção a Pouso Alto, São Sebastião do Rio Verde, Capivari, Itamonte, Itanhandu, Passa Quatro e terminando em Guaratinguetá.
Enfim nossas bikes funcionaram. Então conseguimos andar com ritmo forte, pois não sabíamos quando choveria novamente.
A Estrada Real é assim. Dá muitas voltas, pra chegar no mesmo lugar. Deu vontade de cortar caminho, pois poderíamos economizar cerca 30km a 40km, o que seria um adianto de mais ou menos 2 horas no pedal. Como estávamos fazendo a Estrada Real fielmente, resolvemos não apelar e fizemos tudocertinho.
Almoçamos em Itamonte e prosseguimos.
Passamos por dentro do túnel da Mantiqueira que liga os estados de Minas Gerais a São Paulo. Muito escuro e com muita água por dentro. Logo depois um super downhill perigoso, do jeito que a gente gosta.
Descemos, saímos no asfalto e descemos por cerca de 4km pela rodovia, até entrar na Vila do Embaú, pertencente ao município de Cruzeiro, já no estado de São Paulo.
Quando íamos passar um rio pra pegar a estrada de Guaratinguetá, uma surpresa: a força das águas do rio arrastou a ponte!
Então tivemos que voltar cerca de 8km. Aí então já bateu um cansaço a mais, a fome e já era tarde, por volta das 19h. Então paramos em um bar pra repor as energias com um lanche e então decidimos sair um pouco da rota e dormir em Cachoeira Paulista, totalizando um total de 140km dia.
Direto ao posto, né, lavar as bikes. E Arrumamos uma pousada bem bacana.
Comemos, dormimos e acordamos bem cedo, colocando as roupas ainda molhadas no corpo e saímos um pouco mais cedo, antes do sol nascer, pois queríamos chegar a Paraty naquele dia ainda, que ficava a 160km Dalí, com muita, mas muita subida mesmo. Com certeza o trecho que mais subia de toda a
Estrada Real.
Fomos pra Guará como se fôssemos um foguete! Fizemos uma média muito alta, pois já estávamos com pouco mais de 600km rodados nas costas.
Reforçamos nossas energias e partimos com direção a Cunha, uma verdadeira “parede” pra subirmos com nossas magrelas.
Começamos a subir, e subimos e subimos mais um pouco. Muito forte as subidas, mas sem chuva e terreno seco, com muitas pedras.
Tive um pequeno probleminha com minha bike. Minha garupa onde eu carregava a minha bagagem quebrou. Mas nada que me impedisse de terminar. Enrosquei as coisas no meu banco, fiz uma gambiarrinha básica e vamos que vamos!
Eu, Ivan e Eurico estávamos muito fortes, tanto que os dois amigos que nos acompanhavam de Caxambu, não estavam no nosso ritmo, ficando pra trás, devido a falta de treino.


ponte em Guaratinguetá


    divisa de estados

Nós fizemos todo o trajeto pela Estrada Real, que é a maioria do tempo por estrada de terra, e os dois de Caxambu foram por asfalto.
Eles acharam melhor ficar em Cunha e dormir por ali, e nós três estávamos muito bem e Loucos pra chegar a Paraty Questão de honra cumprir nosso cronograma.
Então voltamos ao trio do início.
Almoçamos, revi um amigo meu que estava no mesmo lugar de quando o vi pela primeira vez, quando fui até Paraty no ano de 2009, com um outro amigo em uma outra expedição.
Mais uma vez, barriga cheia, pedal nas montanhas. E que montanhas, viu...
De Cunha até o topo da serra pra começar descer sobe demais. Mas demais mesmo! Muita subida. Lugares lindos. Cachoeiras maravilhosas no meio do caminho. Estrada bem deserta e visuais deslumbrantes, avistando todo o vale do Paraíba ao horizonte, bem embaixo dos nossos olhos.
Paramos um pouco pra admirar a paisagem e começamos a refletir de como teria sido difícil chegar até ali. As montanhas que passamos ,os vales que percorremos, os rios que atravessamos, os trechos de trilhas que mais pareciam labirintos, os medos que sentimos, os sustos que passamos e é claro, os perrengues que nos rodeavam a todo instante.
De repente olhamos pro lado e vimos que uma nuvem escura se aproximava de nós.
Então abaixamos a cabeça e começamos a pedalar, escalando as montanhas.
A chuva chegou, mas sem maiores problemas. Encaramos como se fosse um refresco pra lavar nossa alma!
Passei também na casa da família que eu e o Thales salvamos as crianças no ano de 2009, quando havia uma chuva muito forte onde alagou a casa onde se encontravam 7 crianças sozinhas, sendo o menor de 2 anos de idade, com a água subindo de uma forma que eu nunca tinha visto na vida.
Seu Mazinho me conheceu na hora que apontei no portão, que é o avô das crianças, com um sorriso enorme no rosto e dizendo: Cê falou que ia voltar e voltou mesmo! hehe
Pena que as crianças não estavam por lá, mas só de rever o Seu Mazinho já valeu por demais. Uma pessoa muito especial ao qual eu tenho um carinho enorme por ele. Ele nos acolheu no ano de 2009, pois ficamos ilhados naquela parte do trecho.
Depois de prosear um pouquinho, fomos embora, pois ainda havia uns 20km pra terminar.
Saímos num trecho do asfalto, subindo ainda. Passamos por uma belíssima cachoeira na beira da estrada e prosseguimos, já na fase final da escalada.
De repente avistamos duas placas no final da subida: Divisa de estados entre SP e RJ e a outra Fim do Asfalto!
Pronto! Era o fim da subida! Estávamos em terras cariocas! Agora era só despencar por cerca de 18km de descida e das boas. Os primeiros 13km de terra com muitos buracos o trecho final de asfalto, muito sinuoso, um verdadeiro tapete bem apertado, com altos penhascos do lado. Descemos envenenados. Coloquei 75,4km/h. Sentia cheiro de pastilha de freio queimada. Voamos baixo!
Quando nos deparamos com uma placa: seja bem vindo a Paraty-RJ.
Chegamos!! Uhuul! Vivaaa! Conseguimos!!! Ufaaa! Não foi fácil... Mas valeu.
Caminho Velho da Estrada Real de Ouro Preto a Paraty já era pra gente! Conquistamos.
Foram 740km de muito barro, muita chuva, suor, dor, estresse, medo, mas também de muita garra, determinação, força, disposição, alegria, união, companheirismo, aventura e diversão.
Valeu muito a pena passar por tudo o que passamos. Faria de novo, é claro!
Tantos lugares diferentes, culturas diferentes, comidas, hábitos, pessoas, clima, tudo muda, inclusive o feijão, que lá pro lado de Ouro Preto é bem roxo, e aqui é marronzinho. O nosso é bem mais saboroso! hehe...
Agora é só comemorar! Bora tomar banho, passar perfume e passear pelo centro histórico. Comer uma pizza e tomar um suco bem gelado! Merecido!
Estávamos muito alegres pelo feito, tentado por muitos, realizado por poucos.
O tempo tava lindo! Sinal que no outro dia daria praia com certeza.
Dito e feito. No outro dia acordamos cedo de novo, só que dessa vez pra irmos pra praia, tomar um solzinho e pegar umas ondas pra relaxar um pouco!
Eita vida boa! Não quero outra vida não! Isso sim é demais! hehe...
Quando a gente olha pra trás, de repente do nada, chega nosso dois amigos de Caxambu, por volta das 11h da manhã. Agora sim, a galera toda reunida!
Foi muito bom essa nossa aventura. Nova pra nós. Diferente. Pois pedalar durante uma semana direto, numa distância dessas era novidade pra todos nós!
Conhecemos pessoas maravilhosas, como o Roberto da Pousada Tiradentes de Ouro Preto, que nos disse que estava a 4 dias sem dormir, o Seu Pedro da Vivenda Letícia de Prados, o pessoal da Ophicina Bike Shop que foram super atenciosos conosco, o Mauricinho, o Ninja, o Tchosfa, o Feijão, o Drika, a Dona Sônia da Pousada Reis de Capela do Saco, ao Du da Metal Bike com o carinho com nossas bikes, ao Mauro da Velo Sport com sua paciência, o Ronaldo de Cunha que parece um havaiano velho, com barba e cabelos grandes e grisalhos, de camisa floral. É o Ronaldo de Cunha. Figuraça!
O Seu Mazinho também de Cunha, ao qual eu tenho um carinho super especial. E também o “Bagulho Doido” de Paraty. Um garçom de um quiosque na praia muito sangue bom que nos deu altos toques sobre os points de Paraty. Gente finíssima. E também ao Humbertnho, nosso apoiador que foi muito legal com a gente, nos levou a Ouro Preto e nos buscou em Paraty.Valeu Humbertinho.


Ivan e jiu no centro de Paraty


turma curtindo o litoral merecido

                                                      
        Marco FINAL da Estrada Real 

   Obrigado a todos que acreditaram no nosso projeto, que nos apoiaram, que nos incentivaram, que torceram por nós, que nos acompanharam a cada pedalada.
E também àqueles que nos criticaram dizendo que éramos loucos. Somos loucos sim, pela liberdade, pela bike, que é a melhor forma de se expressar, de sentir essa liberdade e de fortalecer a amizade, algo muito especial que Deus criou e nos deu de presente!
Obrigado Ivan e Eurico. Parceiros que coloquei na roubada e curtiram muito. Parecíamos crianças a cada dia. Foi muito bom e divertido passar esses dias com vocês. 24 horas com vocês.
E preparem, que em breve haverá mais uma aventura. Talvez Machupicchu. Vamos começar a planejar nossa próxima aventura!

Obrigado Jesus por nos dar força, saúde e persistência. Sem Ele nada disso teria se concretizado!

Obrigado a todos e até a próxima!

Jiuliano de Souza,  São Lourenço-MG